Stress
Stress fisiológico e feridas são os principais fatores para doença e mortalidade dos peixes. Stress é definido como o conjunto de fatores químicos ou físicos que determinam reações corporais que podem contribuir para doença ou morte. Muitos dos patógenos que causam doenças nos peixes estão continuamente presentes na água, substrato, ar ou mesmo nos próprios peixes. Na natureza, os peixes são normalmente resistentes a eles e são capazes de procurar as melhores condições de sobrevivência. No ambiente artificial de nossos aquários, são enfraquecidos por condições estressantes, tais como maior densidade de peixes e parâmetros insatisfatórios da água (ou seja, pouco oxigênio dissolvido, temperatura indesejável, níveis elevados de pH, níveis elevados de dióxido de carbono, amônia, nitrito, matéria orgânica), ferimentos por manuseio, inadequada nutrição e higiene.
Essa condições podem resultar em baixa da resistência, determinando o desenvolvimento de doenças e infestação de parasitas. O stress e os ferimentos acionam uma reação de alarme (resposta de luta ou fuga), que provoca uma série de alterações no peixe. Uma elevação do açúcar no sangue decorre de uma secreção hormonal da glândula adrenal. Isso produz uma explosão de energia que prepara o animal para uma situação de emergência. Adicionalmente, a resposta inflamatória, uma defesa utilizada pelos peixes contra organismos invasores, é suprimida pelos hormônios. O equilíbrio da água no peixe, osmoregulagem, é quebrado, devido a alterações no metabolismo dos minerais. Sob tais circunstâncias os peixes de água doce absorvem quantidades excessivas de água do ambiente, se superidratam. Essa quebra, aumenta os requisitos de energia para a osmoregulagem. A respiração aumenta, a pressão sanguínea também e células vermelhas de reserva são liberadas na corrente sanguínea.
Os peixes são capazes de se adaptar aos stress por um período de tempo. Eles podem parecer e agir normalmente. Entretanto as reservas de energia estão sendo esgotadas, e um desbalanço hormonal ocorre, suprimindo seu sistema imune e aumentando sua suscetibilidade a doenças infecciosas.
Defesas contra infecção
Muco
Muco, a camada de muco que recobre a pele e que serve também para diminuir o atrito com a água, é a primeira barreira de defesa física que inibe a entrada de organismos patológicos. É também uma barreira química, contendo enzimas e anticorpos que podem matar organismos invasores. O muco é importante para a osmoregulagem. Ferimentos determinados por manuseio e certos químicos na água (condições inadequadas, remédios aplicados) removem ou enfraquecem a camada de muco, reduzindo sua competência contra infecções, exatamente quando seria mais necessária. Menor lubrificação faz com que o peixe dispenda maior energia para movimentar-se, em uma condição em que as reservas de energia estão comprometidas.
Escamas e pele
Escamas são outra barreira física, que protege o peixe. Elas são machucadas principalmente por manipulação, superfícies ásperas nos aquários ou por lutas entre eles, causadas por superpopulação ou mecanismos reprodutivos. Infestações de parasitas podem determinar prejuízos para as guelras, pele, nadadeiras e a perda de escamas. Estragos na pele e escamas dos peixes podem aumentar sua suscetibilidade a infecção. Também provocam excessiva absorção de água pelos peixes de água doce. Peixes que estão pesadamente infestados por parasitas podem morrer de infecções bacteriológicas que ingressam através de ferimentos na pele.
Inflamação
Inflamação é uma resposta imune natural das células a uma proteína estranha, tais como bactérias, fungos, virus, parasitas ou toxinas. Inflamação é caracterizada por inchaço, vermelhidão e perda de função. É uma resposta protetora, uma tentativa do corpo de manter fora e destruir o invasor. Qualquer stress causa alterações hormonais e diminui a efetividade da resposta inflamatória. Stress por temperatura, principalmente baixas temperaturas, pode sustar completamente a atividade do sistema imune, eliminando esta defesa contra organimos patológicos invasores. Temperaturas muito elevadas também comprometem a habilidade do peixe em lidar com infecções, além de favorecer a aceleração do desenvolvimento de determinados patógenos. Além disso, diminui a capacidade da água de reter oxigênio, aumenta a taxa de metabolismo e a demanda por oxigênio do peixe.
Anticorpos
Diferentemente da inflamação e outras formas de proteção não específicas, os anticorpos são compostos formados pelo corpo para lutar com proteínas e organismos específicos. A primeira exposição resulta na formação de anticorpos pelo peixe, que o auxiliarão a se proteger de futuras infecções do mesmo organismo. Exposição a concentrações sub letais de patógenos são importantes para que o peixe desenvolva um sistema imune competente. Animais criados em um ambiente estérial terão pouca proteção contra a doença. Animais jovens podem não ter uma resposta imune tão competente quanto os mais velhos.
Stress compromete a produção e liberação de anticorpos. Stress de temperatura, particularmente de rápidas alterações na temperatura, limita severamente a capacidade do peixe de liberar anticorpos, dando ao invasor tempo para se reproduzir e dominar. Stress prolongado reduz a efetividade do sistema imune, aumentando as oportunidades para organismos causadores de doenças.
Prevenção de doenças
Numerosos livros e artigos foram escritos sobre o diagnóstico e tratamento de doenças específicas. Há inclusive sites em que o diagnóstico é feito de forma interativa. Entretanto, a prevenção, através de boas práticas é o melhor controle para minimizar os problemas de doenças e as mortes de peixes.
Bom manejo envolve a manutenção de uma boa qualidade de água, prevenção de ferimentos e stress durante a manipulação e o emprego de medidas adequadas de limpeza e higiene.
Algumas práticas que auxiliam na prevenção de stress:
Água
- não exceda a capacidade do aquário em lotação de peixes;
- monitore e teste os parâmetros de qualidade da água, principalmente, temperatura, pH, amônia;
- mantenha os níveis de oxigênio dissolvido acima de 5 mg/l (taxas insatisfatórias de oxigênio, embora não imediatamente letais, estressam os peixes, resultando em mortalidade postergada);
- elimine os acúmulos de resíduos orgânicos, sobras de alimentos, dióxido de carbono dos aquários;
- mantenha faixas adequadas de pH, alcalinidade e temperatura conforme a espécie;
Transporte e manipulação
- utilize redes macias para capturar e transferir peixes;
- velocidade e gentileza, quando manipulando peixes, são da maior importância;
- diminua o quantidade de vezes em que os peixes são retirados da água e trabalhe tão depressa quanto possível quando transferindo peixes;
- sal pode ser utilizado, na base de uma colher de sopa para cada quatro litros de água, na água de transporte, para minimizar a desregulação osmótica e a infecção bacteriana.
- evite alteração de temperatura da água durante o transporte;
Nutrição
- forneça uma dieta de alta qualidade, que atenda aos requisitos nutricionais da espécie;
- utilize uma taxa adequada de alimentação, tanto superalimentar como subalimentar são prejudiciais;
- armazene o alimento em um local fresco e seco, para evitar degradação;
Limpeza
- utilize boas práticas de limpeza em aquários e equipamentos;
- remova os peixes mortos tão logo sejam detectados
- descarte adequadamente os peixes mortos, evitando que retransmitam doenças;
- quarentene novos peixes, inclusive as redes e equipamentos neles utilizados
Conclusão
O stress compromete as defesas naturais dos peixes contra organismos que provocam doenças. Quando ocorrer doença, os fatores relacionados ao stress, bem como o organismo que a causou, devem ser identificados.
A correção das causas de stress deve preceder ou acompanhar qualquer tratamento de doenças. O tratamento de uma doença é somente uma forma artificial de retardar seus efeitos, de modo que o sistema imune do peixe possa responder.